Dama de ferro
JOGOS OLÍMPICOS: 1932, 1936 pelo Time Olímpico do Brasil; RECORDES MUNDIAIS: 3 (200m, 400m peito; 1 revezamento); CAMPEONATO SUL-AMERICANOS: 1935 ouro (100m costas; 200m peito; 1 revezamento); RECORDES AMERICANOS: 9 (200 jardas, 220 jardas, 440 jardas, 500 jardas, 200m, 400m, 500m peito). Pioneira na evolução do nado borboleta.
Maria Emma Hulda Lenk nasceu em São Paulo, Brasil, em 1915, filha de pais alemães que migraram para o Brasil em 1912. Aquela garota brasileira-alemã fez mais do que qualquer outra para alavancar o status do esporte latino-americano. Sua força de vontade e persistência certamente foram fatores determinantes. Foi a primeira sul-americana a participar de uma Olimpíada (1932) e tem o crédito de ser a primeira mulher a nadar o borboleta nos Jogos Olímpicos (1936), senão a primeira no mundo. Maria foi a primeira mulher sul-americana a bater recordes mundiais, nos 200m e 400m peito em 1939.
Em 1932, o time brasileiro de Maria fez suas economias para os Jogos de Los Angeles vendendo café na viagem de navio. Ela chegou às semifinais dos 200m peito e também nadou os 100m livre e 100m costas. Nos Jogos de 1936, nadando com uma inovadora recuperação aérea dos braços com pernada de peito, Maria novamete chegou às semifinais nos 200m.
Após seus recordes mundiais em 1939, ela esperava lutar pelo ouro em Tóquio/1940 e na Finlândia em 1944. Ambos os Jogos foram cancelados por causa da guerra.
A fama de Maria cresceu em 1942, quando o time sul-americano viajou por 20 cidades nos Estados Unidos. O grupo consistia de seis homens e Maria, a mulher pioneira. Doze recordes americanos foram batidos, mas mais importante, Maria terminou no Colégio de Springfield estudando educação física, o que a levou a ser professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro, se tornando a primeira mulher do Conselho Brasileiro do Esporte.
O texto acima não se trata de mais um dos diversos que encontramos na internet sobre Maria Lenk. Como muitos grandes nadadores, Maria Lenk iniciou nas piscinas aos 10 anos para melhorar suas condições de saúde, debilitada e afetada por uma pneumonia dupla. Seu pai, Paul Lenk, o principal incentivador da carreira de Maria, também foi um esportista campeão (era ginasta) e a ensinou a nadar nas águas límpidas do Rio Tietê que, acreditem, era ideal para a prática na época! "Era uma maravilha, havia até peixinhos!", diz ela. "Esse era meu programa de final de semana. Hoje, quando vou a São Paulo e vejo o Tietê, fico com vontade de chorar".
A partir de 1928, começou a competir, no mesmo Rio Tietê, "em competições em que se descia o rio". "Na época, eu dominava as provas femininas, e no masculino quem chegava na frente era o João Havelange (ex-presidente da FIFA - Federação Internacional de Futebol)".
Em 1932, comprovando sua popularidade e sucesso na natação, foi convocada para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. No clube do Bolinha que eram as seleções olímpicas brasileiras até então, foi a única mulher da delegação e, mais que isso, a primeira sul-americana a participar de uma Olimpíada. "Meu pai me entregou ao chefe da delegação e eu fui muito respeitada pelos atletas". Mas as dificuldades foram imensas. Durante a viagem de navio, ela mantinha a forma nadando em um tanque, amarrada pela cintura por uma corda. Nos Jogos, mais do mesmo. "Competi com um maiô emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram".
Madame Butterfly
Em 1936, Maria Lenk estava de volta aos Jogos, desta vez em Berlim e acompanhada por Piedade Coutinho, Scylla Venâncio, Helena Salles e sua irmã Sieglind Lenk. Ficou conhecida pelo mundo ao ser a primeira mulher a executar o nado de peito com a recuperação dos braços por fora d'água. "A regra não era clara com relação a isso. Não dizia se devíamos recuperar os braços por dentro ou fora d'água. Resolvi arriscar". Foi uma aposta acertada. Em Berlim, ainda não totalmente adaptada ao novo estilo, foi eliminada nas semifinais dos 200m peito. Mas em 1939, bateu os recordes mundiais dos 200m e 400m peito.
A expectativa era grande para os Jogos Olímpicos de 1940, que seriam realizados em Tóquio. Afinal, como recordista, Maria seria a favorita em suas provas. Toda sua preparação e concentração foram destroçados pelas bombas da 2ª Guerra Mundial, que cancelaram os Jogos. Por causa disso, no peito da natação brasileira até hoje medalha de ouro não há, mas o esporte no Brasil hoje seria outro se não fosse Maria Lenk. Por influência direta de Maria e outros nadadores que se arriscaram no novo nado, em 1956 o novo estilo foi denominado borboleta e separado do nado de peito nos Jogos Olímpicos.
Um novo caminho
Em 1942, frustrada, pendurou o maiô. "A guerra acabou com todas as perspectivas dos esportistas". Completou os estudos nos Estados Unidos e começou a dar aulas e fundou o curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1972, se aposentou e encontrou um novo filão. "Depois de aposentada, descobri a natação master. Comecei a treinar, competir, enfim, redescobri a natação".
Hoje, aos 93 anos, coleciona vitórias e recordes mundiais em competições nos quatro cantos do mundo. A idade nunca foi um problema para ela. "Sempre quis ser independente. Nunca quis depender dos outros para nada", diz ela, em uma declaração típica de sua personalidade. Mas reconhece: "Até os 80 anos, não senti a idade passar. Depois disso, comecei a sentir a decadência física, que foi mais rápida. Quando entrei na faixa dos 85 anos, essa decadência foi geral. Já não nadava tantos quilômetros quanto antes". As passadas lentas em direção à piscina da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde nada cerca de mil metros todos os dias, atestam o peso dos anos. Mas não é exatamente um fato corriqueiro alguém reclamar da idade apenas aos 85 anos. A vida regrada e disciplinada de Maria Lenk a fizeram chegar tão longe. Mais longe chegarão as histórias e os feitos dessa pioneira, a maior esportista da história do nosso país. Vida longa a Maria Lenk!
matéria do ótimo blog Raia4News
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