quarta-feira, abril 02, 2008

Superação

Várias vezes em conversas com meus nadadores já contei histórias reais de superação de outros atletas. Elas nos motivam a superar nossos obstáculos. Vou escrever sobre João Carlos Martins, apesar de não ser um expert em sua história, um dos maiores pianistas brasileiros que é a história viva da superação, um exemplo emocionante de pessoa que levou a paixão pela música como principal força motriz de sua vida.
Celebrado como gênio da música clássica aos vinte e poucos anos, João Carlos é tido como um dos maiores intérpretes de Johann Sebastian Bach no mundo. Estreou no Carnegie Hall aos vinte anos, patrocinado por Eleanor Roosevelt, gravou a obra completa de Bach para piano. No auge da carreira de pianista, entretanto, um acidente jogando futebol lhe tira os movimentos do braço esquerdo. Numa queda em um jogo, uma pedrinha entrou em seu braço, perto do cotovelo, rompendo um nervo. João Carlos ainda tentou muita fisioterapia para continuar a tocar, mas os danos foram grandes e, após uma crítica negativa de um jornalista do The New York Times, resolveu pôr um fim à carreira de pianista.
Sete anos depois, empresariando o boxeador Éder Jofre, João Carlos resolve retomar o piano, inspirado pela reconquista do mundial de pesos-pena de boxe por Jofre, que na época contava 37 anos de idade. Com muito esforço, adaptando seu modo de tocar em função das lesões, ele recuperou a antiga forma e, depois de seguro quanto ao seu desempenho, realizou um esgotadíssimo show no Carnegie Hall, para mais de três mil pessoas. Por oito anos as coisas andaram bem, ele iniciou as gravações da obra completa de Bach, e a carreira deslanchou novamente. Até que suas mãos foram atingidas pela LER (lesão por esforço repetitivo), e ele interrompeu novamente as atividades. João Carlos decidiu retomar os estudos de piano após ler uma carta de seu pai, então com 96 anos, publicada no mesmo jornal. Com bastante treino retomou o mesmo desempenho de antes, mas, novamente, o destino não foi muito amigável. Saindo de um estúdio em Sofia, Bulgária, ele foi assaltado, reagiu, e levou um golpe com uma barra de ferro na cabeça. O resultado: lesão cerebral, oito meses em recuperação no Jackson Memorial Hospital e o lado direito do corpo comprometido.
Obstinado, ele iniciou um trabalho em Miami para programar outra área do cérebro para comandar as mãos. Os resultados apareceram e em um ano ele já tocava como antes, terminando as gravações da obra completa de Bach, que havia prometido ao pai, e voltando a se apresentar novamente. Mas o tratamento fez com que as células nervosas responsáveis pela fala possibilitassem que ele tocasse piano, e, como um presentinho colateral, cada vez que ele falava tinha um espasmo na mão. A situação chegou ao ponto de ele ter dores alucinantes ao falar. A opção que os médicos lhe deram foi de cortar o nervo da mão. Os espasmos continuariam, e continuam, mas ele não sentiria mais dor. Escolhendo qualidade de vida ele aceitou a operação, realizou um concerto de despedida em Londres, operou-se em Nova Iorque e perdeu definitivamente a mão direita.
Pensa que acabou? Ele ainda tocava só com a mão esquerda, aquela da pedrinha, e, depois de um concerto na China, sentiu-a completamente inchada. Um tumor benigno desenvolveu-se e a mão estava lesionada pelo uso excessivo. Uma nova operação, e João Carlos Martins perdia definitivamente também a mão esquerda.
Só que as coisas não terminam aí. Após um sonho com o falecido maestro brasileiro Eleazar de Carvalho ele passou a estudar regência. Não consegue segurar a batuta, rege com os braços, os olhos e o coração. Depois de seis meses estudando já dava concertos em Londres, Paris e Bruxelas. Atualmente, desenvolve o projeto social Toca Atitude, que leva música clássica aos jovens de periferia. Rege ainda a Bachiana Chamber Orchestra e leva com paixão a Orquestra Bachiana Jovem, composta de 35 jovens da periferia de São Paulo que, com a ajuda voluntária dos professores Ênio Antunes e Laércio Diniz, da Bachiana Chamber Orchestra, ajudam a disseminar a música clássica e formar novas platéias. Mais de 400 jovens já estão cadastrados para participar desse projeto. Voltou a tocar Piano e no dia de ontem se apresentou em grande estilo regendo e tocando piano na Sala São Paulo. Mais um exemplo para aqueles que acham que obstáculos podem impedir os sonhos. Como Joáo Carlos, basta ter paixão, basta acreditar, basta não parar de tentar. Não sou fã do Faustão, mas abaixo vocês podem vêr um quadro onde João Carlos foi homenageado em seu programa.
Parte I






Parte II




Wlad

Um comentário:

Anônimo disse...

A vida é menos dura com a gente do que foi com esse fantástico músico, e eu pergunto: a gente luta como ele???

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