quinta-feira, outubro 25, 2012

A lição de Felipe Muñoz... por Renato Cordani...



Outro dia, ao ler esse post do Takata no Raia 4 News sobre visitas ao Brasil das lendas da natação mundial, lembrei-me de um fato que resolvi contar aqui.

Em um belo dia do ano de 1980, a então ultra-jovem equipe do Paineiras recebeu no clube a visita dos campeões Mark Spitz, Shirley Babashoff e Felipe Muñoz. Obviamente que a grande atração era o fenômeno Mark Spitz, o então melhor nadador de todos os tempos.

O evento contou com uma palestra dos três no auditório do cinema e uma aula na piscina, com direito a vê-los nadando. Com 10 anos na ocasião, eu tenho uma razoável lembrança desse dia. Lembro da imagem dos três no palco, de achar a loiríssima Shirley bonita e simpática, da fala mansa do mexicano bigodudo Muñoz e de achar o Spitz meio exibidão. Também me recordo  de uma ou outra cena na piscina, principalmente dos elogios que o Mark Spitz fez ao estilo do Rodrigo de Camargo Barros, o qual era a estrela da equipe (e que de fato se destacou no cenário nacional ganhando os 50L no Julio Delamare do Golfinho-1985 e logo depois foi para o Pólo Aquático, sendo presença constante na Seleção Brasileira).
Recorte do jornalzinho do Paineiras da época.

Para a minha pessoa, de cada um dos três ficou no mínimo uma lição. Da Shirley, que os campeões olímpicos podem ser simpáticos e acessíveis aos mortais. Do Spitz, para variar, a velha e boa lição de superação. Disse ele algo como “não é que um dia eu acordei e estava com as sete medalhas de ouro no peito, para consegui-las, eu tive que treinar muito, sem esses treinos eu jamais teria conseguido vencer, etc, etc.” O indefectível “basta acreditar“, discurso que sem dúvida fez muito bem para nós na ocasião. (aqui, o contraponto epichureano do Lelo).


A loiríssima e simpática Babashoff.

Mas a meu ver a melhor lição do dia foi dada pelo Felipe Muñoz, lição essa que repercutiu nos dias, semanas, meses e anos após o evento, sendo plenamente válida até hoje.

(N. do A. Em se tratando de Muñoz, não confundir o supracitado Felipe com o Rodrigo Modena, que, ao contrário do primeiro, é efetivamente peba e descendente de espanhol. Já a estrela deste post, o mexicano Felipe Muñoz, foi campeão olímpico da prova nobre da natação, os 200 Peito, na altitude da Cidade do México – 1968 com 2:28.7, vencendo com uma arrancada sensacional e surpreendente nos últimos 50m o soviético então recordista mundial Vladimir Kosinski. Segundo a Swimming World – no link repercutido pelo Pussieldi – foi uma das 10 maiores zebras olímpicas de todos os tempos.)

No Paineiras aquele dia, Felipe Muñoz contou que lá onde ele treinava havia duas piscinas, uma para os “bons” e outra para os “pebas”. E como ele mesmo era muito peba, o técnico evidentemente o colocava para treinar na piscina dos …  pebas! Um belo dia ele melhorou, ganhou dos “bons” e então os “bons” o convidaram para treinar com eles na piscina dos bons. Aí ele disse “No señor, no señor, yo no soy bueno no señor, ustedes que viengan acá entrenar conmigo en la pileta de los ‘PEBAS’  ”. E com essa lição de humildade, terminou seu discurso.

ustedes que viengan acá entrenar conmigo en la pileta de los ‘PEBAS’

Depois desse dia, o Pancho não perdeu nenhuma oportunidade de recontar para nós essa história em todas as reuniões, principalmente quando a soberba infantil tomava conta de alguém da equipe.

Afinal, ninguém é tão bom que não possa melhorar mais um pouquinho lá na piscina dos pebas…

Um comentário:

rcordani disse...

Opa, valeu pelo post. Aos atletas jovens do CPM: nadei por aí um pouquinho, "só" entre 1977 e 1998...

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