Bem abaixo transcrevo uma matéria que saiu no Lance sobre a nadadora Mariana Brochado (clique aqui para outra matéria que postei), onde podemos talvez descobrir que podemos ganhar mais do que pensamos sendo atletas.
PAN-AMERICANO 2007
JÁ CHOREI O QUE TINHA DE CHORAR. EU ME VEJO EM PEQUIM
A vida da carioca Mariana Brochado, de 22 anos, já tem o seu divisor de águas. O dia foi 4 de maio de 2007. O lugar, precisamente situando, foi o complexo aquático Julio Delamare, no Rio de Janeiro.
Mariana viveu o sonho de disputar o Pan-Americano deste ano, em casa, desde o dia em que soube que a cidade receberia o evento. Mas na manhã daquela sexta-feira, quando olhou para o placar após a final dos 400m livre do Troféu Maria Lenk, última seletiva para o torneio, o mundo de Mariana ficou preto-e-branco.
Ela não conseguiu obter a vaga e chorou. Não pela primeira vez, nem pela última, mas, pela primeira vez, com a certeza de que aquele sonho havia acabado. Definitivamente.
Nesta entrevista exclusiva ao LANCE!, numa manhã ensolarada ao lado da piscina do Flamengo, a mesma em que passou anos treinando quase todos os dias, Mariana falou pela primeira vez, com calma, sobre tudo o que passou e ainda está passando. A tristeza está presente, mas, com ela, uma certeza: ela não pretende desistir tão cedo.
COMO SE SENTE, HOJE?
“Estou perdida. Vi um planejamento de três, quatro anos, de repente acabando em uma última seletiva, em quatro minutos. Eu estava visando o Pan-Americano e, agora, não sei qual meu próximo objetivo, minha próxima meta.”
A PERDA DA VAGA
“Quis decidir na eliminatória, abri a prova muito forte. E a Manuella (Lyrio, que ficou com a segunda vaga nos 400m – a primeira é de Monique Ferreira) dobra a prova, faz a primeira metade quase igual à segunda, o que é muito difícil.
Então, quando cheguei, achei que tivesse ganho a vaga, mas olhei para o primeiro lugar na raia 3 (4min15s00, da Manuella), e falei: ‘Nossa!’ Ali, a confiança acabou, eu tinha dado tudo. Saí para pegar a roupa e já estava engolindo o choro.
Corri para o banheiro e desmoronei.
Eu não acreditava. Ali, para mim, tinha acabado a competição.”
DORMIU À NOITE?
“Não, fechei o olho meia-noite, mas acordei às 4h30min e fiquei direto, até a hora de competir. Só chorava.
Eu não tinha mais o controle da situação. Acho que a própria Manuella não esperava fazer o que fez.
Mas o mérito foi totalmente dela.”
SUBESTIMOU A MANUELLA?
“Talvez. O melhor tempo dela era 4min22s. Eu nunca esperei que ela fosse baixar mais de quatro segundos, eu estava pré-classificada com 4min18s. Sabemos a dificuldade de baixar centésimos. Eu contava com a vaga pelas outras seletivas.
Tanto é que o planejamento já estava no Pan. Não sei se errei, mas não me arrependo de nada.”
CARINHO DAS PESSOAS
“A primeira coisa boa que tirei de não ir para o Pan é que vi o quanto sou querida. Eu não tinha essa noção.
A repercussão nos jornais foi imensa. Me deram todos, mas não li no dia seguinte, só no domingo, porque não tinha condições, eu só chorava. O telefone não parava um minuto. Recebi mais de 100 e-mails, mensagens de celular. De amigos, pessoas que eu nem imaginava. Então, esse carinho está sendo importante para me dar motivação para continuar, me superar. Dá vontade, de sumir? Dá. Dá vontade de tirar férias, não falar com ninguém, não ver piscina na frente. Mas é um momento, também, que mostra quem é cada um. Porque é quando a pessoa está lá embaixo que vemos se ela vai se superar. Essa é a prova pela qual estou passando. É o obstáculo mais difícil da minha carreira.”
RECUPERAÇÃO
“Passa muita coisa na cabeça: ‘Será que é hora de parar? Desistir? Será que já dei o que tinha de dar na natação? Ou não? Só foi um tropeço!’ Não pretendo parar. Estou passando por uma barra, situações que não desejo para ninguém, mas que temos de passar para crescer.”
REAÇÃO IMEDIATA
"Quando saí da piscina não acreditava que não iria para meu segundo Pan, ainda mais em casa. Até passou pela cabeça desistir, mas falei: ‘Não, eu amo nadar.’ Faço isso desde os quatro anos. Me ver sem nadar no Flamengo todo dia seria um vazio. Então, por enquanto, não penso. Essa etapa não acabou. Só estou virando uma página do livro.”
DIA-A-DIA
“Quinta-feira, dia da eliminatória, tive de ir à faculdade entregar um trabalho. Cheguei na sala, com a cara inchada de choro, entreguei para o professor e saí. E segunda-feira voltei para a faculdade. Foi outra prova. Meus amigos mais próximos sentiram que eu estava abalada e nem tocaram no assunto. Mas as pessoas com quem não tenho tanto contato vinham perguntar e foi difícil. As pessoas esperam resultados de você. Quando não ganha, querem saber o que aconteceu.”
INSÔNIA
“Ainda acordo muito de madrugada.
Domingo eu estava bem, mas segunda veio a recaída. Mas já chorei o que tinha de chorar. Foi o pior momento da minha vida.”
MENINA DO RIO
“Aprendi a nadar no Flamengo, tudo o que consegui devo a meus técnicos e ao clube. Tivemos momentos de glória? Tivemos. Tivemos momentos no fundo do poço? Tivemos. Por mais que tenha recebido propostas de dentro e fora do país, nunca pensei em sair. Tenho meu “esquema americano” no Rio.
Moro na Gávea (Zona Sul da cidade), treino na Gávea e estudo na Gávea. Faço tudo de bicicleta. Adoro a cidade. É triste ver nadadores cariocas indo para clubes de São Paulo e Minas. Como a cidade que receberá o Pan quase não tem atletas?”
PESO DO PAN
“O Pan ser no Rio pesou para que eu ficasse. Se fiquei até hoje, porque sairia agora? Arriscar seria complicado. Além de não ter a família ao lado, poderia não me adequar a outro técnico. Por essa identificação com o Rio, as pessoas esperavam muito de mim. Eu era a única representante da natação da cidade no Pan, mas vacilei e estou fora.”
OBA-OBA
“Não acho que o assédio da imprensa atrapalhou, mas era exaustivo. Quase todo dia havia alguém me filmando no treino, e eu preferia ficar sozinha, com meu técnico. Mas, também, os repórteres têm de fazer o trabalho deles. Isso é bom para a natação ganhar visibilidade.”
AUGE
“Muitos atletas dão ótimos resultados com 17, 18 e 19 anos. Mas há um momento de estagnação. Eu passei dois, três anos sem baixar tempos. Voltei a ter bons resultados no ano passado. A natação é ingrata, não somos uma máquina. Se você não treina um dia, se sente diferente.
Não sei se já tive meu auge ou se ainda vou ter. Prefiro pensar que vou ter. Não posso ficar satisfeita com o que já fiz, senão paro.”
EXPERIÊNCIA RUIM
“A primeira vez que entrei derrotada foi naqueles 400m livre, por tudo o que ocorreu na eliminatória. Sou confiante, sei o quanto treino. Mas, naquele dia, eu achava que não tinha como mudar a situação.
Tinha dado tudo na eliminatória e teria de baixar três segundos. Meu psicológico estava destruído, e o que move o corpo é o psicológico.”
ACEITARIA CONVITE PARA O PAN?
“De jeito nenhum. Não preciso disso para estar numa Seleção. Por que abriria a exceção para mim e não para outros? Por que não abriria para o Fischer, que ficou por pouco? Tem de chegar por mérito. Se não foi dessa vez, paciência e fico fora. Por mais que agora eu saiba o que represento para a natação, eu falaria: ‘Obrigada, mas deixa para daqui quatro anos, no México.’ Esse Pan do Rio acabou para mim.”
SOFRIMENTO NO PAN
“Hoje estou frágil, mas falta um mês e meio, pelo amor de Deus. Tenho de estar bem até lá, né?”
COMO ESPAIRECER?
“Fora da piscina, a melhor terapia é a natação. Mas agora, como o problema é a natação, a melhor coisa é conversar com família e amigos.
Domingo à noite, minhas amigas disseram: ‘Você não vai ficar em casa.’ Fomos jantar fora, demos gargalhadas. Naquele momento, esqueci de tudo. Mas em casa, quando deito a cabeça no travesseiro, volto a pensar no que vivo.”
OLIMPÍADA DE PEQUIM-2008
“Eu me vejo em Pequim. Eu estava voltando à melhor forma, tinha certeza de resultados no Pan. Mas posso adiar. Penso em participar de mais um Pan e uma Olimpíada.”
Será que é hora de parar? Desistir? Será que já dei o que tinha de dar na natação? Ou não? Só foi um tropeço! Não penso em parar
JÁ CHOREI O QUE TINHA DE CHORAR. EU ME VEJO EM PEQUIM
A vida da carioca Mariana Brochado, de 22 anos, já tem o seu divisor de águas. O dia foi 4 de maio de 2007. O lugar, precisamente situando, foi o complexo aquático Julio Delamare, no Rio de Janeiro.
Mariana viveu o sonho de disputar o Pan-Americano deste ano, em casa, desde o dia em que soube que a cidade receberia o evento. Mas na manhã daquela sexta-feira, quando olhou para o placar após a final dos 400m livre do Troféu Maria Lenk, última seletiva para o torneio, o mundo de Mariana ficou preto-e-branco.
Ela não conseguiu obter a vaga e chorou. Não pela primeira vez, nem pela última, mas, pela primeira vez, com a certeza de que aquele sonho havia acabado. Definitivamente.
Nesta entrevista exclusiva ao LANCE!, numa manhã ensolarada ao lado da piscina do Flamengo, a mesma em que passou anos treinando quase todos os dias, Mariana falou pela primeira vez, com calma, sobre tudo o que passou e ainda está passando. A tristeza está presente, mas, com ela, uma certeza: ela não pretende desistir tão cedo.
COMO SE SENTE, HOJE?
“Estou perdida. Vi um planejamento de três, quatro anos, de repente acabando em uma última seletiva, em quatro minutos. Eu estava visando o Pan-Americano e, agora, não sei qual meu próximo objetivo, minha próxima meta.”
A PERDA DA VAGA
“Quis decidir na eliminatória, abri a prova muito forte. E a Manuella (Lyrio, que ficou com a segunda vaga nos 400m – a primeira é de Monique Ferreira) dobra a prova, faz a primeira metade quase igual à segunda, o que é muito difícil.
Então, quando cheguei, achei que tivesse ganho a vaga, mas olhei para o primeiro lugar na raia 3 (4min15s00, da Manuella), e falei: ‘Nossa!’ Ali, a confiança acabou, eu tinha dado tudo. Saí para pegar a roupa e já estava engolindo o choro.
Corri para o banheiro e desmoronei.
Eu não acreditava. Ali, para mim, tinha acabado a competição.”
DORMIU À NOITE?
“Não, fechei o olho meia-noite, mas acordei às 4h30min e fiquei direto, até a hora de competir. Só chorava.
Eu não tinha mais o controle da situação. Acho que a própria Manuella não esperava fazer o que fez.
Mas o mérito foi totalmente dela.”
SUBESTIMOU A MANUELLA?
“Talvez. O melhor tempo dela era 4min22s. Eu nunca esperei que ela fosse baixar mais de quatro segundos, eu estava pré-classificada com 4min18s. Sabemos a dificuldade de baixar centésimos. Eu contava com a vaga pelas outras seletivas.
Tanto é que o planejamento já estava no Pan. Não sei se errei, mas não me arrependo de nada.”
CARINHO DAS PESSOAS
“A primeira coisa boa que tirei de não ir para o Pan é que vi o quanto sou querida. Eu não tinha essa noção.
A repercussão nos jornais foi imensa. Me deram todos, mas não li no dia seguinte, só no domingo, porque não tinha condições, eu só chorava. O telefone não parava um minuto. Recebi mais de 100 e-mails, mensagens de celular. De amigos, pessoas que eu nem imaginava. Então, esse carinho está sendo importante para me dar motivação para continuar, me superar. Dá vontade, de sumir? Dá. Dá vontade de tirar férias, não falar com ninguém, não ver piscina na frente. Mas é um momento, também, que mostra quem é cada um. Porque é quando a pessoa está lá embaixo que vemos se ela vai se superar. Essa é a prova pela qual estou passando. É o obstáculo mais difícil da minha carreira.”
RECUPERAÇÃO
“Passa muita coisa na cabeça: ‘Será que é hora de parar? Desistir? Será que já dei o que tinha de dar na natação? Ou não? Só foi um tropeço!’ Não pretendo parar. Estou passando por uma barra, situações que não desejo para ninguém, mas que temos de passar para crescer.”
REAÇÃO IMEDIATA
"Quando saí da piscina não acreditava que não iria para meu segundo Pan, ainda mais em casa. Até passou pela cabeça desistir, mas falei: ‘Não, eu amo nadar.’ Faço isso desde os quatro anos. Me ver sem nadar no Flamengo todo dia seria um vazio. Então, por enquanto, não penso. Essa etapa não acabou. Só estou virando uma página do livro.”
DIA-A-DIA
“Quinta-feira, dia da eliminatória, tive de ir à faculdade entregar um trabalho. Cheguei na sala, com a cara inchada de choro, entreguei para o professor e saí. E segunda-feira voltei para a faculdade. Foi outra prova. Meus amigos mais próximos sentiram que eu estava abalada e nem tocaram no assunto. Mas as pessoas com quem não tenho tanto contato vinham perguntar e foi difícil. As pessoas esperam resultados de você. Quando não ganha, querem saber o que aconteceu.”
INSÔNIA
“Ainda acordo muito de madrugada.
Domingo eu estava bem, mas segunda veio a recaída. Mas já chorei o que tinha de chorar. Foi o pior momento da minha vida.”
MENINA DO RIO
“Aprendi a nadar no Flamengo, tudo o que consegui devo a meus técnicos e ao clube. Tivemos momentos de glória? Tivemos. Tivemos momentos no fundo do poço? Tivemos. Por mais que tenha recebido propostas de dentro e fora do país, nunca pensei em sair. Tenho meu “esquema americano” no Rio.
Moro na Gávea (Zona Sul da cidade), treino na Gávea e estudo na Gávea. Faço tudo de bicicleta. Adoro a cidade. É triste ver nadadores cariocas indo para clubes de São Paulo e Minas. Como a cidade que receberá o Pan quase não tem atletas?”
PESO DO PAN
“O Pan ser no Rio pesou para que eu ficasse. Se fiquei até hoje, porque sairia agora? Arriscar seria complicado. Além de não ter a família ao lado, poderia não me adequar a outro técnico. Por essa identificação com o Rio, as pessoas esperavam muito de mim. Eu era a única representante da natação da cidade no Pan, mas vacilei e estou fora.”
OBA-OBA
“Não acho que o assédio da imprensa atrapalhou, mas era exaustivo. Quase todo dia havia alguém me filmando no treino, e eu preferia ficar sozinha, com meu técnico. Mas, também, os repórteres têm de fazer o trabalho deles. Isso é bom para a natação ganhar visibilidade.”
AUGE
“Muitos atletas dão ótimos resultados com 17, 18 e 19 anos. Mas há um momento de estagnação. Eu passei dois, três anos sem baixar tempos. Voltei a ter bons resultados no ano passado. A natação é ingrata, não somos uma máquina. Se você não treina um dia, se sente diferente.
Não sei se já tive meu auge ou se ainda vou ter. Prefiro pensar que vou ter. Não posso ficar satisfeita com o que já fiz, senão paro.”
EXPERIÊNCIA RUIM
“A primeira vez que entrei derrotada foi naqueles 400m livre, por tudo o que ocorreu na eliminatória. Sou confiante, sei o quanto treino. Mas, naquele dia, eu achava que não tinha como mudar a situação.
Tinha dado tudo na eliminatória e teria de baixar três segundos. Meu psicológico estava destruído, e o que move o corpo é o psicológico.”
ACEITARIA CONVITE PARA O PAN?
“De jeito nenhum. Não preciso disso para estar numa Seleção. Por que abriria a exceção para mim e não para outros? Por que não abriria para o Fischer, que ficou por pouco? Tem de chegar por mérito. Se não foi dessa vez, paciência e fico fora. Por mais que agora eu saiba o que represento para a natação, eu falaria: ‘Obrigada, mas deixa para daqui quatro anos, no México.’ Esse Pan do Rio acabou para mim.”
SOFRIMENTO NO PAN
“Hoje estou frágil, mas falta um mês e meio, pelo amor de Deus. Tenho de estar bem até lá, né?”
COMO ESPAIRECER?
“Fora da piscina, a melhor terapia é a natação. Mas agora, como o problema é a natação, a melhor coisa é conversar com família e amigos.
Domingo à noite, minhas amigas disseram: ‘Você não vai ficar em casa.’ Fomos jantar fora, demos gargalhadas. Naquele momento, esqueci de tudo. Mas em casa, quando deito a cabeça no travesseiro, volto a pensar no que vivo.”
OLIMPÍADA DE PEQUIM-2008
“Eu me vejo em Pequim. Eu estava voltando à melhor forma, tinha certeza de resultados no Pan. Mas posso adiar. Penso em participar de mais um Pan e uma Olimpíada.”
Será que é hora de parar? Desistir? Será que já dei o que tinha de dar na natação? Ou não? Só foi um tropeço! Não penso em parar
2 comentários:
"UM CAMPEÃO SE MOSTRA NA DERROTA, NA FORÇA PRA LUTAR QUANDO JÁ CANSOU"
Muitas vezes caimos,para levantar-mos mais forte e lutar-mos como guerreiros.
BJS
adorei a reportagem..
do jeito q ela fala da nataco da vontade ate de volta a nada agora...hehehe
e da pra senti como ela ta triste.. ja passei por isso tbm de ter um objetivo e ver ele indo embora...eh mto ruim!!
bjoss
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